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Presença de álcool em pães de forma: veja riscos à saúde

Por Lucas Silva 15 Julho 2024 Publicado em Saúde
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Se os pães de forma fossem bebidas, os produtos de cinco marcas seriam considerados alcoólicos – pois têm teor de álcool superior a 0,5%. É o que aponta uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Segundo especialistas, o consumo de pães com concentração de álcool que ultrapassa os limites ideais para o consumo pode agravar comorbidades e, ainda, prejudicar o desenvolvimento de fetos.

 

Confira as cinco marcas levantadas e o teor alcoólico de cada uma:

 

Visconti (teor alcoólico de 3,37%), Bauducco (1,17%), Wickbold 5 Zeros (0,89%), Wickbold Sem Glúten (0,66%), Wick Leve (0,52%), e Panco (0,51%).

 

As marcas que estão dentro do ideal são: Seven Boys (0,50%), Wickbold (0,35%), Plusvita (0,16%) E Pullman (0,05%)

 

O médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Durval Ribas Filho, de São Paulo (SP), afirma que a ingestão de pães com elevado teor alcoólico pode agravar o quadro de pessoas com problemas hepáticos, por exemplo. Ele ainda destaca a relevância da pesquisa para a saúde da população.

 

“Existem pessoas que têm problemas hepáticos, problemas do fígado, principalmente a chamada esteato hepatite ou esteatose hepática, e para aqueles portadores, evidentemente, de um grau mais avançado, que seria cirrose, certamente seria altamente prejudicial a ingestão desses pães que têm um teor de álcool maior do que se deve. Portanto, é fundamental que essa pesquisa possa atingir a população, pois é  extremamente importante em termos de saúde pública”, diz.

 

Além disso, a ingestão de álcool pode piorar sintomas gastrointestinais e agravar quadros de ansiedade e depressão a longo prazo. A nutricionista Pollana Campos, de Brasília (DF), explica de que forma o etanol age no organismo e impacta a saúde dessas pessoas.

 

“Ele pode também piorar o quadro de acumulo de gordura. Além disso, algumas doenças gastrointestinais, como, por exemplo, úlcera, gastrite, o álcool ele é muito irritante da mucosa gástrica e isso pode favorecer ainda mais o processo de inflamação. O refluxo também é uma doença em que a pessoa não pode consumir álcool, porque ele piora os sintomas desses refluxos. Além das pessoas também com alguns distúrbios psiquiátricos, como depressão, porque o álcool é um depressor do sistema nervoso central, que pode piorar os sintomas. Pessoas com ansiedade também podem ter aumento dos sintomas a longo prazo”, destaca Pollana.

 

A nutricionista Fernanda Larralde, da BioMundo, de São Paulo (SP), pondera que as pessoas em processo de tratamento em relação a transtornos alcoólicos devem se atentar às marcas de pães mencionadas no levantamento, já que o seu consumo pode prejudicar a evolução do desmame do vício. 

 

“As pessoas que estão se recuperando de transtornos alcoólicos não deveriam, em hipótese alguma, fazer o consumo do álcool; e de repente, por exemplo, se consome um pão desse, porque quando que a gente vai associar um pão à produção de bebida alcoólica? Até porque esse conhecimento acaba sendo mais restrito e o que se espera das indústrias é que haja uma entrega de produtos idôneos, que não comprometam a saúde de ninguém”, expõe Fernanda.

 

Gestantes e lactantes 

 

As gestantes e lactantes também devem se atentar às marcas de pães que consomem, tendo em vista que o consumo de álcool não é recomendado para essa parcela da população. O texto da pesquisa menciona que, mesmo que em doses pequenas, o consumo recorrente de álcool pode impactar o aprendizado e ocasionar problemas de memória.

 

“A síndrome alcoólica fetal (SAF), ocasionada pela ingestão de álcool, é caracterizada por anormalidades no neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, retardo de crescimento e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade”, diz um trecho da pesquisa.

 

A nutricionista Pollana Campos afirma que a ingestão de álcool por gestantes e lactantes pode afetar o desenvolvimento neurológico do feto, interferir no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê e, ainda, levar a malformações congênitas. “As crianças expostas ao álcool durante a gestação podem ter problemas comportamentais como hiperatividade, dificuldade de atenção e problemas de socialização”, salienta Pollana.

 

Por que tem álcool no pão?

 

No processo de produção dos pães há dois momentos em que o etanol está presente. Primeiro, ocorre a produção natural de etanol no processo de fermentação. Após a adição de ingredientes como sal, açúcar e fermento, este último converte os açúcares em dióxido de carbono e álcool – nessa etapa, o etanol deve evaporar quando o pão é assado e restar pouca quantidade no alimento.

 

Posteriormente, o álcool é adicionado para diluir os conservantes que irão evitar que o pão mofe – o que ocorre após o alimento passar pelo forno.

 

“É um método chamado de aspersão. Assim que esse pão sai do forno, é borrifado sobre ele um tipo de conservante, autorizado por lei, mas esse conservante é diluído em álcool. Então, o que se observou nesta pesquisa da Protesta é que esse álcool não foi evaporado”, explica a nutricionista Fernanda Larralde. 

 

Segundo o levantamento, a contaminação dos pães com o álcool pode ocorrer quando a indústria acrescenta conservantes nos produtos. “[...] se houver um abuso na quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso (a evaporação do etanol) pode não ocorrer e ocasionar em um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o texto da pesquisa.

 

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