1. MENU
  2. CONTEUDO
  3. RODAPE

Brumadinho: 5 Anos Sem Justiça

Por Jonas Paislandy 23 Janeiro 2024 Publicado em Brasil
Votação
(0 votos)

‘Fizeram muito esforço para matar essas pessoas em Brumadinho’

 

No Seminário 5 Anos Sem Justiça, em Brumadinho, promotor de justiça e delegado da Polícia Federal dão detalhes das investigações que levaram à conclusão que o rompimento da barragem em 2019 foi crime premeditado. Procurador federal afirma que um dos desafios é levar os 16 réus a júri

 

Os detalhes das investigações sobre o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, surpreenderam hoje o público que lotou a Câmara Municipal da cidade para acompanhar o Seminário 5 Anos Sem Justiça.

 

O delegado da Polícia Federal, Cristiano Campidelli, e o promotor de justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Francisco Generoso, afirmaram que as investigações do caso provam que as empresas Vale e Tüv Süd colocaram os lucros à frente da segurança das pessoas.

 

Já o procurador do Ministério Público Federal, Bruno Nominato, descreveu que, entre os desafios atuais da ação penal está levar o caso a júri na Justiça Federal.

 

“Fizeram muito esforço para que essas 272 vidas, 2 ainda no ventre, fossem perdidas”, afirmou Cristiano Campidelli, ao lembrar que, em novembro de 2017, a barragem já tinha sido condenada por estudos contratados pela própria Vale.

 

“Seus entes queridos ainda voltavam para casa todas as noites quando, em novembro de 2017, essa empresa disse (para a Vale): a barragem não passa, ela está dando 1,09 (fator de segurança) na seção de maior altura. Ela tem 20 vezes mais chance de romper do que o máximo tolerável”, contou o delegado.

 

“E a Vale se reuniu com essa empresa algumas vezes, pressionando-a para que mudasse os seus dados, fosse menos conservadora, a empresa se negou e o que a Vale fez com ela? Dispensou”, completou.

 

O delegado também confirmou que as vítimas foram enganadas pela empresa porque acreditavam na segurança das rotas de fuga. “A Vale conseguiu reunir 99% do seu corpo interno em uma simulação e 83% do corpo externo em outra.

 

E essas pessoas foram orientadas a, se a sirene tocasse, caminhar calmamente até o ponto de encontro. A Vale sabia que as sirenes não funcionavam. A Vale sabia que essas pessoas teriam menos de 1 minuto para se salvar”, disse.

 

“Então, essas pessoas morreram porque elas foram enganadas, e por isso que (os 16 réus) foram indiciados e denunciados por homicídio com recurso que tornou impossível a defesa das vítimas”, afirmou.

 

Troca de e-mails

 

O promotor Francisco Generoso detalhou a troca de e-mails entre gestores da Vale e representantes de empresas certificadoras no sentido de conseguir, a todo custo, o atestado de estabilidade da barragem.

 

“Uma declaração de condição de estabilidade negativa geraria problemas reputacionais (para a Vale), a necessidade do acionamento do plano de ação emergencial e tantas outras medidas”, disse. 

 

Segundo ele, as investigações provaram que o lucro foi considerado antes da vida das pessoas. Ele contou que documentos apreendidos na empresa mostram que ela calculou o custo monetário dos riscos do rompimento da barragem, incluindo o custo de cada vida humana.

 

“A existência de um cálculo de risco monetizado por si só é ilícito? Não. É uma sistemática corporativa que pode ser considerada, no plano empresarial, um instrumento de decisão.

 

O problema é quando esse instrumento de decisão se presta a fundamentar a decisão entre o que fica mais barato: investir em segurança ou arcar com os custos da indenização. Ou entre decidir sobre se deve ser priorizada a vida e a integridade física de pessoas ou a reputação imediata da empresa”, disse.

 

Importância dos familiares das vítimas no juri

 

“Espero que não percam a esperança porque nossa expectativa é levar esse caso a júri”, afirmou o procurador do Ministério Público Federal Bruno Nominato. Segundo ele, para o andamento da ação penal, o papel dos familiares das vítimas é fundamental.

 

“Traduzir o sofrimento das vítimas para o poder judiciário é fundamental e a participação dos senhores é uma garantia de que a gente consiga levar as coisas de modo melhor ao poder judiciário”, afirmou.

 

“Esse caso não vai ser fácil porque não é um caso que a Justiça brasileira tenha facilidade de julgar. Estamos lidando com pessoas ricas e poderosas, com os melhores advogados do país.

 

Mas aqui estamos fazendo um feixe com as famílias das vítimas, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e todas as instituições que participaram do trabalho de investigação”, completou.

 

Observatório das Ações Penais

 

Durante o Seminário, o advogado Danilo Chammas, assessor jurídico da AVABRUM para processos criminais, e a diretora da AVABRUM, Maria Regina da Silva, lançaram o site do Observatório das Ações Penais Sobre a Tragédia de Brumadinho. 

 

“Essa é uma iniciativa da AVABRUM com outras 8 instituições. É uma ferramenta que nasce justamente da necessidade de atender a demanda e ao desejo dos familiares, sobretudo, mas também pode ser de outras pessoas interessadas em conhecer esses processos”, disse. 

 

Maria Regina completou: “Hoje, neste Seminário, nós pudemos entender muita coisa que não entendíamos antes sobre o processo. E este Observatório vai fazer isso pra gente. Toda dúvida que tivermos teremos o esclarecimento lá.

 

Ele foi criado não só para nós, familiares de vítimas de Brumadinho, mas para toda a sociedade. Às vezes a gente não tem a pessoa do lado porque ela não está devidamente esclarecida”.

 

O Seminário 5 Anos Sem Justiça foi mais uma atividade para lembrar os 5 anos da tragédia da Vale, em Brumadinho. Pela manhã, o seminário reuniu os representantes das tragédias de Brumadinho, Mariana, Maceió e Boate Kiss, que formaram uma rede de solidariedade pelo fim da impunidade. Leia abaixo.

 

Todo conteúdo do dia de palestras ficará disponível para consulta no Youtube da AVABRUM (@avabrumoficial)

 

Esta semana, a AVABRUM promove no dia 24 uma Carreata por Justiça e um Louvor e, no dia 25, um grande Ato Por Justiça no Letreiro de Brumadinho. Confira a programação aqui.

 

 

Omissão do poder público e impunidade unem vítimas de grandes tragédias recentes no país

 

 

Em Seminário 5 Anos Sem Justiça, rede de solidariedade pelo fim da impunidade é formada por familiares e vítimas de tragédias provocadas pelas empresas Vale e Tüv Süd, em Brumadinho; Samarco (da BHP e da Vale), em Mariana; Braskem, em Maceió; e da Boate Kiss.

 

Encontro segue à tarde, com representantes do judiciário e da polícia federal para debater as investigações e a ação penal de Brumadinho.

 

Yasmin Marques

Instagram Radio EldoradoTwitter Radio Eldorado

 

Enquete Eldorado

Você já baixou o aplicativo da Rádio Eldorado?

Já baixei - 75%
Não sabia - 0%
Vou baixar - 25%
Ainda não - 0%

Total de votos: 4
A votação para esta enqueta já encerrou
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro
Parceiro