Uma cena que parece mais um roteiro de filme. Cálculo, planejamento, ação, tudo em poucos segundos. É a lei da natureza. Enquanto a mãe cutia desfrutava tranquila da companhia de seus dois filhotes na Serra dos Pirineus, em Goiás, o gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) apelidado de ‘fumaça’ rodeava a área pensando no almoço.
Ao sentir a ameaça, a família tentou se esconder, mas o felino foi mais rápido e conseguiu predar um dos filhotes. Que isso acontece todos os dias na mata a gente já sabe, mas observar uma cena de predação e entender um pouco mais do comportamento desses animais selvagens é raro, porém possível com ajuda da tecnologia.
O responsável por instalar a armadilha fotográfica e conseguir os registros impressionantes, realizados no final de setembro deste ano, é o médico Leandro Vitorino, que há 20 anos tem a fotografia de natureza como hobby.
“Eu deixei a armadilha instalada virada para uma espécie de toca, onde eu já tinha visto sinais de pequenos animais e imaginei que algum predador estava utilizando o local para caçar ou que algum bicho estava utilizando a toca como abrigo. Quando vi tempos depois a cena capturada foi muito legal, foi a quarta vez que flagrei um gato-mourisco na Serra dos Pirineus. Eu fico muito feliz e me sinto gratificado de ter imagens muito bacanas que podem contribuir para um conhecimento maior das espécies, que ocupam um bioma tão ameaçado que é o Cerrado”.
O gato-mourisco é um dos felinos silvestres menos conhecidos e flagrar esse animal não é tão comum, já que a espécie possui baixas densidades populacionais.
A sequência entrega algumas características do animal: com hábitos diurnos, o felino prefere caçar de dia e, apesar de ser habilidoso nas árvores, opta por predar no chão. A dieta é ampla e varia de mamíferos, como a cutia, até anfíbios, cobras, aves, insetos e até peixes.
As principais ameaças a sobrevivência da espécie são a caça, atropelamentos e principalmente a perda de habitat, mas o gato-mourisco ainda resiste e é classificado como ‘Vulnerável’ na Lista Nacional de espécies ameaçadas de extinção e ‘Pouco Preocupante’ no levantamento internacional.
“É uma espécie que tem muitos conflitos com os seres humanos, porque acaba caçando galinhas, assim como as onças-pintadas, mas a gente tenta mudar isso, o que nem sempre é fácil. Meu maior sonho através da fotografia é promover a necessidade de conservação e plantar uma sementinha nas pessoas que a gente entre em contato”, diz Leandro.
G1