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Combinação de tecnologias do Brasil e da China pode potenciar produção agroecológica

Por Lucas Silva 30 Junho 2025 Publicado em Agricultura
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Há mais de duas décadas o Brasil desenvolve uma tecnologia conhecida como “rochagem“, que usa o pó de rochas para fertilizar os solos. A China por sua vez, no mesmo tempo, desenvolveu a tecnologia de compostagem acelerada, reduzindo o tempo de produção de fertilizantes orgânicos. Agora, uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e Instituto de Pesquisa em Reciclagem Orgânica da Universidade Agrícola da China (UAC) explora a combinação das duas tecnologias.

 

A encarregada do estudo é Caroline Gomide, professora da UnB e pesquisadora visitante na UAC. A tecnologia chinesa de compostagem orgânica acelerada não é a única, mas é a mais econômica em comparação com outras, como a desenvolvida na Europa.

 

Gomide explica que normalmente um processo de transformação de resíduo orgânico – seja de cozinha ou da agricultura –, em composto orgânico, pode levar de 4 a 6 meses. Com a tecnologia desenvolvida pela UAC a transformação ocorre em 7 dias, e o produto final (após o tempo de maturação), leva ao todo um mês para ficar pronto. Embora o estudo que combina esse processo com a rochagem mais utilizada no Brasil, ainda esteja em andamento, já há indícios sobre o potencial da combinação entre as duas tecnologias.

 

“A disponibilidade de nutrientes inorgânicos para a planta nesse fertilizante orgânico que vai ser gerado a partir da combinação das tecnologias vai ser muito melhor do que apenas utilizando só matéria orgânica ou utilizando só os remineralizadores”, diz Caroline Gomide.

 

Isso porque, explica a professora da UnB, os micro-organismos ajudam a disponibilizar os nutrientes enquanto também decompõem a matéria orgânica e as disponibiliza para as plantas. “Então as plantas vão ter mais acesso a nutrientes, trazendo mais saúde para a planta, para o solo e mais micro-organismos também”.

 

“Isso segue um dos ensinamentos da [pioneira da agroecologia no Brasil] Ana Primavesi que é: o solo vivo é o solo saudável. Com um solo saudável, a gente tem plantas saudáveis e comida saudável”, explica Gomide.

 

A rochagem no Brasil

 

Suzi Huff Theodoro é uma das maiores pesquisadoras do Brasil e do mundo na área de remineralizadores. Ela esteve na China recentemente para dialogar sobre a cooperação e integração que vem sendo desenvolvida entre as duas tecnologias.

 

A professora explica que os solos vão perdendo minerais (ou eles vão sendo alterados)por diferentes razões, seja pelo clima ou outros fatores (num processo conhecido como intemperização), porque as plantas os utilizam ou pelo mau uso do agronegócio ou outros modelos predatórios.

 

“Quando você adiciona uma rocha fresca (como chamamos na geologia), uma rocha nova moída no solo, você está inserindo minerais no solo, portanto está remineralizando”, explica Huff Theodoro.

 

Para a pesquisadora, um dos aspectos mais importantes dos remineralizadores é virem de fontes locais, sem necessidade de importação (principalmente no Brasil), e são adaptáveis a diferentes agroecossistemas. Cerca de 85% dos fertilizantes sintéticos utilizados na agricultura brasileira são importados. A crise na Ucrânia expôs a dependência do Brasil desses insumos, com altas na demanda e nos preços. Cerca de 23% desses insumos são importados da Rússia no Brasil.

 

As regiões Nordeste e Sudeste do Brasil têm rochas aptas para a agricultura familiar, explica a professora. “Essa diversidade de rochas que podem ser usadas beneficia a economia local, dinamiza a economia local, regional. Você não precisa percorrer grandes distâncias para ter acesso a fertilizantes”, diz Suzi.

 

Segundo o Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo de fertilizantes no mundo. É o quarto maior consumidor, atrás da China, Índia e Estados Unidos.

 

Mais de 73% dos fertilizantes são utilizados nas monoculturas de soja, milho e cana-de-açúcar. O elemento mais utilizado na agricultura brasileira, segundo o Confert é o potássio (38%), seguido pelo fósforo (33%) e nitrogênio (29%). A professora Suzi considera que há pelo menos três aspectos em que os remineralizadores fortalecem a produção agroecológica: a produtividade, a redução dos custos e o fator ecológico.

 

Em relação ao último fator, ela afirma que diferente dos fertilizantes agrotóxicos, os remineralizadores não apresentam risco de contaminação das águas, do solo e do ar. Suzi Huff Theodoro também destaca a contribuição em relação às mudanças climáticas. “Ao contrário dos fertilizantes químicos que quando são usados emitem gases que favorecem o efeito estufa, os remineralizadores ao serem aplicados ao solo, eles têm a capacidade de capturar carbono”.

 

Sob o governo Lula, em 2023, o Confert aprovou o documento do Plano Nacional de Fertilizantes, que inclui, entre diversas metas, “atingir, em termos de capacidade instalada, 5 milhões de toneladas/ano de remineralizadores a partir de produtos e coprodutos até 2025; 7,5 milhões até 2030; 12 milhões até 2040; e 16,5 milhões até 2050”.

 

O risco dos orgânicos como parte de um novo pacote tecnológico

 

O Plano Nacional de Fertilizantes também prevê a meta de “aumentar a produção e oferta de fertilizantes orgânicos e organominerais em, pelo menos, 25% até 2025; 50% até 2030; 200% até 2040; e 500% até 2050”.

 

Para a pesquisadora Caroline Gomide, o caminho da agroecologia e da soberania alimentar não pode passar pela continuação da dependência de um modelo em que os camponeses não estejam no centro.

 

“Se entrar na lógica do pacote tecnológico onde os camponeses vão ter dependência na compra ou não vão poder produzir ou acessar devido ao preço desses materiais, você acaba saindo de um pacote tecnológico na dependência de fertilizantes sintéticos e de pesticidas para uma outra dependência”, questiona a pesquisadora.

 

Além de não ser viável para a agricultura familiar ela aponta outro problema dessa via:

 

“É ruim do ponto de vista econômico, mas existe um outro risco também no uso indiscriminado dos bioinsumos, e é que tudo que visa só o lucro e não visa, de fato, entender o ambiente da cultura, o ambiente de plantio – aí nesse caso, o microambiente do solo, da interação solo-planta-raiz, etc.–, acaba exagerando no processo, e é esse tipo de lógica que acabou causando o surgimento das superbactérias no caso dos antibióticos”.

 

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